Por que razão decidiu avançar com uma candidatura independente?
A motivação é desde logo conseguir trazer aqui uma resposta que acho que faz falta, considerando aquilo que são as opções conhecidas para o nosso concelho, a vontade de servir a comunidade e de garantir que com alguma visão e com alguma objetividade, com racionalidade, com proximidade, sobretudo. A nossa casa é a nossa terra, é o nosso concelho, a nossa vila, consegue ter aqui um plano futuro e consegue ser um sítio cada vez melhor para viver, para trabalhar, para se visitar. A motivação é precisamente essa, é verdadeiramente o apelo do serviço público, por assim dizer.
Em algum momento houve a hipótese de ser candidato através do Partido Socialista e não como independente?
A opção foi ser candidato independente a presidente da Câmara Municipal de Alenquer. Eu decidi não apresentar eleições junto do Partido Socialista. Devo ao Partido Socialista o facto de ter sido eleito com esse grande chapéu, a marca Partido Socialista. Devo ao senhor presidente [Pedro Folgado] o convite e prezo muito isso. […] O objetivo é apresentar um projeto às pessoas, uma equipa transversal onde, de alguma maneira, a bandeira ideológica está mais atrás. Uma equipa que acrescenta valor, com pessoas reais da comunidade, que têm um percurso e uma carreira, que dão resposta e que são próximas, presentes e capazes.
Como é foi este processo interno dentro da Câmara Municipal?
Foi uma questão relativamente simples. Sou uma pessoa adulta e madura, percebo que existem consequências das ações que nós tomamos. Eu tomei uma decisão, percebo que tem impacto também em outras pessoas, em instituições. Estou consciente daquilo que podia ter acontecido, daquilo que pode acontecer. Mas foi muito tranquilo a conversa com o senhor presidente. […] Depois na Câmara Municipal, acho que foi uma coisa que as pessoas acolheram sem grande confusão e, enfim, tranquila.
Vai continuar o mandato até ao fim, enquanto o vereador sem pelouros?
Vou continuar este mandato até ao fim como vereador não-executivo, ainda que não esteja agarrado a nenhuma cadeira. Quem me conhece sabe que, do ponto de vista profissional, sou muito intenso e desligo muito pouco.
Acabou por ser a face visível de algumas obras visíveis aqui em Alenquer. Houve alguma coisa que gostasse de ter conseguido acabar? E, do que realizou, o que o marcou?
Fui eleito em quinto lugar, fui eleito para a comunidade e, portanto, valorizei muito, respeitei muito esse alinhamento das pessoas para comigo. Eu tinha mais empatia com outros temas, mas acabei por ficar com algumas pastas complexas. O trânsito é sempre uma coisa difícil, porque traz problemas à vida das pessoas. Com o contexto da saída de vereadores, houve aqui uma troca de pelouros, um acréscimo de pelouros, todos eles complicados. […] Creio que mudei um bocadinho de paradigma e hoje consigo colher isso junto das pessoas, porque, mesmo em contextos mais complexos, dei a cara. […] A esse nível [de complexidade] acho que consegui fazer um verdadeiro milagre, porque, nos primeiros 36 meses de mandato, arranquei e finalizei perto de 20 obras: o mercado, a envolvente, a escola dos Cadafais, a escola de Ota, a realização da fonte gótica, o zimbório, o Bairro Angra do Heroísmo, o telhado da Romeira, o Casal das Balas, os Laboratórios, a Casa da Torre, o Museu Municipal, podia continuar. […] O mercado teve vários momentos. […] Foi um caminho muito sinuoso, mas é um equipamento que hoje nos orgulha, tem tido imensa procura, vai ficar praticamente lotado em termos de ocupação, com uma polivalência enorme, o espaço está todo amigo do peão e passámos daquilo que era um espaço desordenado, para aquilo que temos hoje, que acho que nos orgulha, com alguns apontamentos da pintura paisagística, uma vila cada vez mais bonita e crescente.
Voltando um pouco à política, vai ter candidatos às freguesias? E à Assembleia Municipal?
Ter uma candidatura independente à Câmara Municipal é o caminho mais penoso de todos, como sabemos, porque é preciso assinaturas, não existe de intervenção do Estado e temos de conseguir apoios ou pagar do nosso bolso. É um caminho complexo e, portanto, só quando tivermos todo o processo submetido é que faremos o anúncio público da equipa. Até lá, a única pessoa que tem que se expor sou eu, que sou o líder desta equipa. Vamos fazer tudo direitinho, não tenho dúvidas que vai correr tudo bem, mas acho que é assim que deve ser.
Qual é que é a ideia sobre este tema das águas?
A água é um bem essencial, portanto concordo que o caminho é internalizar esse serviço novamente, à semelhança do que já tínhamos, mas fazê-lo de uma forma profissional, com uma empresa para o efeito, eventualmente uma empresa que também tenha os resíduos. […] Depois, acho que somos um país democrático e de bem, os contatos são para se cumprir. O que pode haver é uma negociação desse contrato. Acho que os alenquerenses não podem perder, não podem ver dinheiro sair assim da sua carteira, à conta de uma negociação que é só política. […] Aquilo que acho que deve ser feito é haver um caminho de conversação e de proximidade junto da concessionária e perceber qual é que a altura em que isso pode acontecer, portanto é o resgate dessa concessão, ou não acontecer de todo. Mas temos de trabalhar em conjunto para garantir que, no dia em que o negócio, o serviço das águas, voltar a ser público, nós estamos preparados. E garantir também que, daqui até lá, continua a haver investimento nas condutas, que continuemos a trabalhar em termos de resiliência em tempo de cheia, que temos uma rede de esgotos cada vez mais seletiva. O que é facto é que, se de repente avançar muito rapidamente a construção de urbanizações, se houver aqui um caminho próspero em termos de construção, temos um problema, não só com as escolas, mas com as estradas. Temos de perceber, de forma inteligente, qual é a forma de procurar financiamento para algumas variantes, algumas vias alternativas que possam mitigar este problema do trânsito… mas temos outros problemas. A pressão da rede de água, a rede elétrica, a rede de esgotos e as ETARs que temos em espaço urbano não teriam capacidade.
Em termos de mobilidade, há algum plano concreto para a resolução deste problema?
A mobilidade era um dos pelouros que tinha, e fizemos um plano para a mobilidade urbana sustentável. Houve duas ou três sessões. Estendi, para além do que seria o mínimo e o objetivo, as sessões para que houvesse a integração de mais contributos. Raramente temos contributos da comunidade. Temos que procurar tocar as pessoas para estarem mais alerta aos sítios onde a informação é colocada, para poderem participar. […] Foi um plano trabalhado de uma forma muito concreta, personalizada, com problemas reais, que foram estudados e medidos. Teve a integração de um conjunto significativo de propostas, umas pessoas mais ligadas à mobilidade infantil e escolar, outras pessoas mais sensíveis para o tema dos motociclistas, outras para o tema dos transportes públicos. É da discussão de todos que conseguimos uma solução mais objetiva, mais segmentada. […] Fizemos uma coisa muito interessante, embrionária, que espero, ganhando das eleições, acontecerá seguramente e de forma prática, que é o transporte a pedido. É um projeto que queremos que integre aquilo que será o caderno de transporte. Necessariamente, vai trazer mobilidade a pessoas que estão em zonas de sombra, onde o autocarro não passa simplesmente ou passa mais longe. Por exemplo, uma pessoa que está de cadeira de rodas, mas que está lucida e autónoma, neste momento não tem uma alternativa. A pessoa já passou pelo facto de ter perdido a sua mobilidade pedonal, mas acaba por perder também a dignidade. Se precisa de ir às finanças, por exemplo, tem que ir com os bombeiros. O direito à sua discrição pessoal não existe.
Que plano existe para a Saúde em Alenquer?
Temos, no nosso manifesto, uma solução para a gestão dos equipamentos escolares e dos equipamentos de saúde, a criação de um piquete que faça só esse trabalho, para que os equipamentos de saúde e os equipamentos de educação deem sempre uma boa resposta às nossas crianças e às pessoas que precisam de cuidados de saúde.
A atração de médicos pode ser uma estratégia do município, mas quem tem que tornar atrativa a fixação de médicos no SNS é o Governo, não são as câmaras municipais. As pessoas, naturalmente, recorrem aos autarcas, pela proximidade que têm com a comunidade, mas não são as câmaras municipais que têm que fazer isso. Isso cabe ao governo, e o governo não pode demitir-se deste tipo de responsabilidades.
Para terminar, sobre a Alma do Vinho e o impacto que teve, como avalia a iniciativa? Tem tido o resultado esperado?
Nós temos hoje, seguramente, aproximadamente quatro vezes mais visitas enoturísticas em média do que tínhamos antes da criação do maior festival de vinhos da região de Lisboa, que por sinal me diz muito. Ninguém mais do que eu fala com amor ao festival da Alma do Vinho. […] Acho que temos que perceber onde é que estamos a fazer um investimento mais volumoso, onde é que está a fatia de leão daquilo que é a organização do festival e, se calhar, pensar que podemos dividir esse risco com um parceiro que possa explorar, por exemplo, a bilheteira e os espetáculos, e nós focamo-nos na parte cultural e na parte comunitária.


