Pedro Folgado: a despedida, o último dia do presidente

O dia 31 de outubro de 2025 foi o último dia de Pedro Folgado ao comando dos destinos da Câmara Municipal de Alenquer. A Voz de Alenquer acompanhou o dia daquele que foi o terceiro presidente eleito democraticamente no concelho, sempre com maioria absoluta.

São 08H45 e Pedro Folgado chega aos armazéns da Câmara Municipal de Alenquer, conduzido pelo motorista, Nuno. Localizado na Barnabé, é neste espaço que Pedro Folgado começa a despedir-se dos funcionários, naquele que é o seu último dia na qualidade de presidente da Câmara Municipal de Alenquer. Chega ao fim um percurso com 12 anos, três mandatos, sempre com maioria absoluta. Somando os quatro anos anterior, enquanto chefe de gabinete do então presidente, Jorge Riso, contam-se 16 anos de serviço público.

A acompanhá-lo está o vereador José Honrado, que também deixa as funções no município. Nos armazéns, começa por se despedir dos funcionários da construção civil, seguindo depois para o ambiente, eletricistas e profissionais de mecânica. Conforme se despede, vai agradecendo o trabalho desenvolvido ao longo dos anos e deixando felicidades aos funcionários, pedindo, ao mesmo tempo, que ajudem o novo executivo. Folgado confessa à Voz de Alenquer que o empenho dos funcionários municipais foi importante para o trabalho destes 12 anos: “Se não fossem os trabalhadores, muita coisa não tinha acontecido. Achei que tinha de vir agradecer a lealdade que tiveram comigo”. O complexo da Barnabé alberga diversas secções do município, e grande parte da manhã é passada naquele local, sempre de guarda-chuva aberto. “O tempo também está triste na minha despedida”, brinca Pedro Folgado, durante uma das deslocações em que a chuva não dá tréguas.

Enquanto vai agradecendo, os funcionários retribuem o gesto, desejam felicidades e um deles lamenta o facto de não conseguir estar na tomada de posse, no dia seguinte. Pedro Folgado passa também pela Proteção Civil, onde o mau tempo é assunto de conversa. Um dos funcionários partilha que “a noite foi tranquila”, sendo que Folgado diz que esperava que algo acontecesse por causa do mau tempo.

O presidente, a poucas horas de deixar de o ser, passa ainda pela carpintaria, pela serralharia, pela secção de bate-chapa, pelo arquivo e pela sala de motoristas. É no espaço que acolhe a divisão de obras municipais que Pedro Folgado se emociona pela primeira vez. No entanto, quando a emoção se assume, Pedro Folgado percebe que é tempo de seguir caminho. E vai sendo assim ao longo do dia, em diversas ocasiões. “Não é fácil. São 12 anos. Há pessoas que já cá estavam e há pessoas novas, mas as pessoas acolheram-me de braços abertos. Há alguma nostalgia e, como se vê, as pessoas também estão a bem comigo”, conta. É neste momento que revela à Voz de Alenquer que todos os funcionários que entraram na autarquia ao longo deste três mandatos foram recebidos pelo presidente. Aproveitando-o desprevenido, falámos com o motorista de Pedro Folgado. Nuno revela que “já não era só um motorista, era um amigo”, adiantando que muitas vezes o presidente desabafava durante as viagens. Questionado sobre se alguma vez teria sido conduzido por Pedro Folgado, Nuno conta uma história que leva a alguns risos: “Uma vez fui conduzido pelo presidente. Precisava de assistir a uma formação e o presidente foi a conduzir. Foi engraçado, porque fomos para Lisboa e enganou-se logo aqui, em vez de seguir para Lisboa foi para norte!”. Sobre as saudades, o amigo Nuno emociona-se com um simples “sim”.

A meio da manhã, Pedro Folgado deixa a Barnabé e vai a outros edifícios do município. Passa pela Divisão Estratégica, localizada na Avenida Jaime Ferreira, seguindo depois até ao CROA (Centro de Recolha Oficial de Animais), onde também se despede da mascote, a cadela Amália. Segue então para a Biblioteca Municipal, um local especial: “Foi aqui que comecei, há 16 anos, a convite do presidente Jorge Riso. Foi aqui que me colocou, como assessor. Vim para aqui nos primeiros tempos. Depois, fui para os Paços de Concelho, como chefe de gabinete. Este foi o primeiro contacto que tive com as pessoas da Câmara. Na biblioteca acolheram-me bem, sentia-me em casa”.

Maria João é uma das funcionárias que entrou na autarquia nos últimos 12 anos e emociona-se assim que vê Pedro Folgado: “Tinha a certeza que ele viria cá no último dia. O presidente deixa-nos um sentimento de carinho e de emoção”, revela, partilhando um conselho com Pedro Folgado: “não deixe a nossa comunidade”.

Antes da hora de almoço, Pedro Folgado visita ainda o Museu do Vinho, o Museu do Presépio, o Museu Hipólito Cabaço, o Museu Damião de Góis e as Piscinas Municipais.

“É um presidente de porta aberta”

Ao início da tarde, Pedro Folgado despede-se dos vários serviços municipais instalados na sede dos Paços de Concelho. Começa pela divisão de educação, pelo urbanismo, pela comunicação, pela ação social, pelo gabinete jurídico, pelos recursos humanos e pelo atendimento ao público. No caminho, cruza-se com uma funcionária que está também de saída da autarquia, ao fim de 39 anos de serviço. Entre várias emoções, passa pela contabilidade, onde, apesar das despedidas, cumpre a rotina de sempre: após entrar, dirige-se a um armário à esquerda, onde está um molho de folhas. São as últimas ordens de pagamento, que têm de ser assinadas à mão. Num pequeno balcão à entrada desta divisão, despede-se dos funcionários, enquanto assina a papelada.

Folgado partilha com a Voz de Alenquer como costumava ser a sua rotina na chegada à Câmara: “Entrava no gabinete, ligava o computador, via se tinha emails, ou alguma coisa para despachar e depois atendia as pessoas que estavam à minha espera para falar comigo. Percebia, com o Gabinete de Apoio, se existia alguma coisa urgente. Normalmente, às quintas-feiras, ia para a OesteCIM e, de 15 em 15 dias, às terças-feiras, ia a Coimbra, porque pertencia à ANMP (Associação Nacional de Município Portugueses). Nesses dias, levava o computador comigo e despachava à distância algumas coisas”.

Questionado sobre o cognome que gostaria de ter, responde depois de pensar alguns segundos: “o Justo”. Sobra-lhe pouco tempo até à ultima entrevista enquanto presidente, que é dada à Voz de Alenquer. Nesse intervalo, e enquanto são preparados os pormenores para a entrevista no seu gabinete, senta-se na secretária, vê os últimos emails e arruma as últimas coisas.

Em conversa com a nossa reportagem, Orlanda e Filomena, secretárias no Gabinete de Apoio à Presidência, falam de Pedro Folgado: “É um presidente sempre de porta aberta. A porta do gabinete estava sempre aberta. Era muito fácil trabalhar com o Pedro Folgado; não é exigente, é muito acessível. Vamos ter saudades”. Por fim, ambas deixam um conselho a Folgado: “que seja feliz e que vá desfrutar da vida. Quem está num lugar destes não tem vida própria”.

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