No dia 25 de Fevereiro de 2020 as ruas da vila de Olhalvo encheram-se de foliões, carros alegóricos, bailarinos, máscaras, música e boa disposição. Sem saber, Olhalvo estava a viver o último Carnaval do Zé Povinho em completa liberdade. Seis dias depois a Direção Geral de Saúde confirma a existência do primeiro caso de covid-19 e o país mergulha numa intensa luta contra o vírus.
Dois anos depois, o país começa pouco a pouco a retomar a normalidade que vai sendo possível. No próximo dia 25 de Fevereiro, os foliões vão poder voltar a encher as ruas de Olhalvo para festejar o Entrudo, na 37ª Edição do Carnaval do Zé Povinho. A Sociedade Filarmónica Olhalvense é a responsável pela organização do “Carnaval mais típico do concelho de Alenquer”, que este ano vai ser realizado em moldes diferentes, devido à pandemia.
Pedro Batista, presidente da direção da Sociedade Filarmónica de Olhalvense (SFO), esclarece, ao jornal Nova Verdade, que a edição deste ano vai contar com apenas dois dias de festa, ao contrário dos habituais quatro. “Vamos ter, na sexta feira à noite, dia 25, um convívio musical com Dj´s e no domingo à tarde, no dia 27, vamos efetuar o tradicional corso, seguido de matiné como tem sido hábito. Normalmente o Carnaval é quatro dias, mas desta vez vamos fazer só dois, devido à pandemia”.
Apesar de o país estar ainda fortemente marcado pela pandemia, Pedro Batista está confiante de que está na altura de retomar velhos hábitos e tradições da população olhalvense. “As pessoas têm necessidade de se libertar um pouco e nós estamos cá também para fazer esse serviço e para nos divertirmos e proporcionar a diversão aos outros também”.
O presidente da SFO recorda com tristeza o ano passado, em que o país estava fechado dentro de quatro paredes em confinamento e não foi possível realizar qualquer festejo de Carnaval. “Foi muito difícil estarmos parados, ainda havia gente que tinha esperança de que fosse possível fazer, mas era difícil, não era seguro e não havia autorização. Mas está nos genes desta gente brincar ao Carnaval”, remata.
Este ano, além da campanha de vacinação contra a covid-19, a Sociedade Filarmónica Olhalvense recebeu um outro estímulo para a realização do Carnaval do Zé Povinho, conta Pedro Batista: “Este ano tivemos um impulso diferente porque fomos contratados pela TVI, há uns meses atrás, e já fizemos uma brincadeira para as gravações da telenovela. Isso deu-nos ainda mais força para sairmos agora à rua para comemorar o Carnaval”.
O Carnaval que já é uma tradição
Depois de um ano de paragem, o Carnaval do Zé Povinho está de regresso para a 37ª edição. A duas semanas da festa, os preparativos vão ainda a meio, mas decorrem a todo o gás para ter tudo pronto para este Carnaval que tem como principal particularidade o facto de ser “espontâneo”. “Apesar de ser organizado pela Sociedade Filarmónica Olhalvense, temos cinco ou seis grupos e depois cada grupo prepara o seu carro alegórico, escolhe as suas máscaras e vamos para a rua. Fechamos as ruas da localidade e fazemos, durante algumas horas, um desfile, sempre às voltas. É espontâneo, não tem um tema, porque é nos difícil preparar carros todos parecidos ou iguais, e, portanto, cada grupo vai preparando o seu carro, de acordo com os próprios elementos que definem um tema”, esclarece Pedro Batista.
Todos os anos são centenas de pessoas que se juntam nas ruas desta pequena localidade para ver o desfile e participar na festa. Este ano, Pedro Batista, espera também uma forte adesão da comunidade no Carnaval, mas reforça que a principal preocupação é a segurança. “Nas matinés esperamos, pelo menos, 500 pessoas em cada. No desfile eu gostaria que estivessem 1000 pessoas. Ainda estamos a tratar dos preparativos, vamos ver o que podemos fazer porque os tempos ainda são de alguma contração. Não podemos embarcar também em grandes euforias, porque além do receio das pessoas, há também a questão sanitária e de segurança”.

O presidente da direção da Sociedade Filarmónica Olhalvense acredita que os 37 anos do Carnaval do Zé Povinho já tornaram o festejo numa tradição, que vai ganhando cada vez mais força por ser o Carnaval do Povo. “É o único Carnaval organizado do nosso concelho e é o único carnaval em que as pessoas são todas amigas, onde as pessoas se divertem, sem compromissos e libertam-se das coisas do dia-a-dia. Como o próprio nome indica, é o Carnaval do povo. É onde as pessoas se divertem com alegria e boa disposição, mesmo sem uma organização super profissional, porque somos todos amadores, e isso também nos une a todos”, salienta.
Pedro Batista não tem dúvidas de que é o espírito de amizade que se vive neste Carnaval que o tem tornado tão único. “Este ano não vai acontecer, mas, geralmente, tínhamos um almoço em conjunto com todos os participantes antes de partirem os corsos e tornamo-nos mesmo numa família. É esse espírito de brincadeira que todos partilhamos que dá uma alma diferente ao nosso Carnaval”. E a resposta da população aos esforços da SFO tem sido sempre positiva, garante Pedro Batista, que sublinha, que o Carnaval do Zé Povinho já faz parte do ADN de quem vive em Olhalvo. “A população adere sempre muito bem. O Carnaval do Zé Povinho já está enraizado nas pessoas. A população vem ao Carnaval, diverte-se, assiste aos cortejos, e é sempre uma alegria para nós esta festa. É este espírito que queremos voltar a trazer”.
Pedro Batista deixa, por isso, um convite à população do concelho de Alenquer para voltar a viver o Carnaval do Zé Povinho em 2022: “Gostaria de convidar todos os alenquerenses para esta oportunidade de, mais uma vez, visitarem Olhalvo, visitarem o Carnaval do Zé Povinho, para se divertirem, para aliviarem a pressão do dia-a-dia, e participarem connosco nesta brincadeira. Precisamos da presença de todos para verem que nós em Olhalvo sabemos organizar os eventos e vivemos também para a cultura e para a brincadeira com responsabilidade. São todos bem-vindos a Olhalvo nos dias 25 e 27 de fevereiro”.