Novos órgãos autárquicos tomam posse em Alenquer

O salão nobre da Câmara Municipal de Alenquer encheu-se para a cerimónia de tomada de posse de vereadores e deputados, à qual se seguiu a primeira Assembleia Municipal do novo mandato autárquico.

Na manhã de 1 de novembro de 2025, sábado, largas dezenas de pessoas, entre as quais vereadores, deputados e presidentes eleitos e cessantes, reuniram-se no salão nobre da Câmara Municipal de Alenquer, na Vila Alta, para a cerimónia de tomada de posse dos novos órgãos autárquicos do concelho.

As várias forças políticas e os movimentos que concorreram à Câmara Municipal e à Assembleia Municipal, bem como às várias freguesias e uniões de freguesias do concelho, estiveram representados na sessão, que contou ainda com um discurso de Pedro Folgado, autarca cessante, ao deixar o cargo de presidente da Câmara Municipal de Alenquer, ocupado ao longo dos últimos 12 anos, desde a sua eleição em 2013.

Cada partido ou movimento fez-se representar por pelo menos um elemento que discursou perante o auditório. Os representantes das candidaturas independentes a nível de freguesias – Luís Cipriano, pelo Independentes Pela Freguesia (IPF), em Aldeia Galega da Merceana e Aldeia Gavinha; e Filipa Martinho, pelo Filipa Martinho Todos Pela Freguesia (FMTPF), em Vila Verde dos Francos – assumiram a palavra no início da sessão. Amélia Caetano, eleita para a Assembleia Municipal, representou a Coligação Democrática Unitária (CDU – PCP/PEV), visto que a força de Esquerda falhou, pela primeira vez, a eleição de um vereador para a Câmara Municipal de Alenquer.

Dos eleitos para o executivo municipal, discursaram Tiago Pedro, do Movimento Independente Tiago Pedro; Carlos Sequeira, do CHEGA; Francisco Guerra, da Coligação TODOS, que inclui PPD/PSD, CDS-PP e Iniciativa Liberal; e, pelo Partido Socialista, Luís Rema e João Nicolau, eleito presidente da Câmara Municipal de Alenquer. A sessão foi presidida por Fernando Silva, na qualidade de presidente cessante da Assembleia Municipal.

“O voto é sempre soberano”

Pedro Folgado discursou de forma sucinta, assinalando os anos “de serviço público, de entrega e de compromisso com esta terra, que me diz tanto”, período marcado “por três maiorias consecutivas, que muito me honraram e que traduziram a confiança que os alenquerenses depositaram no projeto que liderámos”. No uso da palavra, Folgado agradeceu a todos aqueles com quem trabalhou, da equipa aos técnicos e funcionários, bem como às associações, às instituições e a “todos os que contribuíram para o desenvolvimento do concelho e para o bem-estar da população”. “Sem o vosso empenho, nada do que alcançámos teria sido possível”, disse.

“A democracia exige respeito pela vontade popular”, continuou o presidente cessante, acrescentando que “quando o resultado eleitoral não é o que desejávamos, não devemos criticar o eleitorado – devemos procurar compreender a sua mensagem. O voto é sempre soberano, e quem ganha as eleições deve ter a possibilidade e a responsabilidade de concretizar o programa que foi sufragado”. Na perspetiva de Pedro Folgado, na ausência de uma maioria absoluta, “é fundamental saber trabalhar em conjunto, respeitando as diferenças, mas privilegiando o que nos une, o futuro de Alenquer”, sendo preferível pontes a coligações negativas. “Vivemos num mundo incerto, um mundo perigoso e estranho, onde crescem populismos e extremismos que simplificam o que é complexo e dividem o que se devia unir”, sublinhou, apelando: “cada vez mais, é preciso ter coragem para abraçar a causa pública. Espero que todos, independentemente das cores políticas, saibam continuar a colocar Alenquer em primeiro lugar. Que o debate não se sobreponha à ação; que o respeito nunca se perca, mesmo nas divergências”.

O presidente cessante terminou o discurso emocionado, dirigindo as últimas palavras à esposa, a quem agradeceu a “compreensão, por ter entendido as minhas ausências todos estes anos” e a quem disse que “agora vais ter de te habituar à minha presença, porque estou de volta”.

“Seremos críticos, mas justos”

Nas palavras de Tiago Pedro, “a democracia vive da participação e do envolvimento cívico de cada um, e essa foi sem dúvida a grande vitória destas eleições”. O eleito agradeceu às mais de 3.000 pessoas “que confiaram no Movimento Alenquer Independente”, sublinhando que “cada voto representa uma história, uma esperança e uma vontade de mudança. Representa a crença de que é possível fazer política de outra forma, com independência, com liberdade, com sentido de responsabilidade e com um profundo amor à nossa terra”.

O vereador eleito destacou o papel da sua candidatura independente: “A população está mais informada, mais exigente e também, infelizmente, mais polarizada. É precisamente por isso que precisamos de menos ideologia e mais diálogo, menos confrontação e mais consenso. O tempo que vivemos é o tempo da responsabilidade, do equilíbrio e da construção partilhada”.

A terminar, Tiago Pedro garantiu que o Movimento Alenquer Independente vai honrar “os seus votos com a mesma seriedade com que os conquistou” e que vai manter uma participação “crítica e atenta, contribuindo sempre para o bem comum”. “Seremos exigentes, mas leais. Seremos críticos, mas justos. Estaremos sempre disponíveis para o diálogo, mas nunca dispostos a abdicar dos nossos princípios. A política deve ser, acima de tudo, um espaço de serviço e não de vaidade”, sublinhou.

“Estamos aqui para contribuir”

Eleito pelo CHEGA, Carlos Sequeira encetou o discurso com a ideia de que “a política local é, acima de tudo, o espaço mais próximo das pessoas, e é aqui que os problemas se sentem todos os dias. É aqui que as soluções têm de ser concretas, sérias e eficazes”. O vereador eleito acrescentou que “é com este espírito de proximidade e serviço público que assumo este mandato. O CHEGA de Alenquer compromete-se a fazer uma oposição firme, construtiva e transparente. Firme na defesa dos princípios e valores que representamos. Construtiva nas propostas que apresentamos para melhorar a vida das famílias, dos jovens e dos idosos do nosso concelho. E transparente na forma como exigiremos rigor, responsabilidade e justiça na gestão dos recursos públicos”.

No âmbito do diálogo, Carlos Sequeira esclareceu que “não estamos aqui para dividir, estamos aqui para contribuir”, avançando que “sempre que as medidas forem boas para Alenquer terão o nosso apoio, mas sempre que forem contrárias aos interesses dos cidadãos terão a nossa oposição”.

“Queremos um Alenquer mais equilibrado, mais seguro e com mais proximidade, com muitas oportunidades. Um concelho que valorize as suas freguesias e o seu património e o esforço de quem trabalha todos os dias para um futuro melhor”, disse, agradecendo ainda a todos os alenquerenses que confiaram na sua candidatura.

“Sem visão, não há futuro”

Francisco Guerra, que liderou a candidatura da Coligação TODOS, que elegeu dois vereadores para o executivo, afirmou que o dia da tomada de posse “é um dia de imensa honra e profunda responsabilidade. Tomamos posse como vereadores, conscientes de que o mandato que nos foi concedido não é um privilégio, mas uma missão: a missão de servir, de contribuir e, principalmente, de fiscalizar”. Apontando o projeto da coligação, que descreveu como “focado num bem maior, de todos e para todos”, agradeceu a “cada cidadão que acreditou no nosso projeto”, sublinhando que “a vossa [dos eleitores] confiança é portadora de uma nova esperança, é portadora de uma vontade revigorada” e que “vale a pena lutar por uma política mais justa, mais transparente, focada na resolução concreta dos problemas das pessoas. Uma política em que não interesse o cartão partidário, uma política em que todos contamos”.

No que toca à ação para o decorrer do mandato, Francisco Guerra assumiu que, “da nossa parte, não teremos medo de assumir a divergência e, em momento algum, abdicaremos de mais transparência nos procedimentos, sejam eles a atribuição de apoios financeiros, a promoção de trabalhadores da Câmara ou a aprovação de projetos”.

“Sem visão, não há futuro”, disse, acrescentando a disponibilidade para apoiar “tudo o que for bom para todos”, mas “denunciando e combatendo, com coragem e serenidade, tudo o que for injusto, ilegal ou contrário ao interesse público. Seremos uma voz firme, mas sempre sem abdicar das regras do respeito, da educação e lealdade institucional”.

“Este mandato não é um cheque em branco”

O último discurso da sessão coube a João Nicolau, eleito presidente da Câmara Municipal de Alenquer. Para além de João Nicolau, o Partido Socialista elegeu dois outros vereadores.

Dado o término do mandato de Pedro Folgado, para o agora presidente eleito, “esta cerimónia é, antes de tudo, uma passagem de testemunho. Muito mais do que um ato cerimonial, é um exercício de humildade, lembrando-nos que os cargos são efémeros e que o mandato não nos pertence – é emprestado pela comunidade e devolvido em serviço”. Na visão de João Nicolau, “este momento relativiza a dimensão pessoal e coloca-nos no lugar certo, que é o da equipa, do trabalho partilhado e da responsabilidade de continuar uma obra que vem de trás e que seguirá depois de nós”. “Entramos com humildade, conscientes de que governar é servir, e servimos sabendo que cada decisão deve acrescentar valor à vida coletiva”, aditou.

Apesar da vitória, o presidente sublinhou que “este mandato não é um cheque em branco, é um contrato de exigência e proximidade. Dá-nos legitimidade, mas impõe-nos responsabilidade. Obriga-nos a estar presentes, a explicar escolhas, a corrigir quando for preciso e a prestar contas de forma regular e transparente. É assim que entendemos o serviço público: com método, respeito e resultados”. À semelhança de outros eleitos, o socialista focou o diálogo, comprometendo-se “com uma governação de portas abertas”, tendo em vista “melhores soluções”, mas sem abdicar de condições, procurando “o terreno comum que sirva a população. Onde valer a pena somar, somaremos”.

Nas várias áreas da gestão da autarquia, João Nicolau traçou as prioridades para a saúde, a educação, a habitação, a mobilidade e o ambiente, prometendo trabalhar “em equipa com as juntas de freguesia, numa articulação permanente e com critérios iguais para todos”. Antes de elencar estas várias prioridades, dirigiu um agradecimento e “uma palavra muito especial a quem mantém esta casa de pé, aos trabalhadores municipais”, que descreveu como, em muitos dos casos, “os primeiros a sentir o peso das novas responsabilidades e competências atribuídas às autarquias. Dificuldades a que responderam com profissionalismo, brio e sentido público”.

Da melhoria das estradas e das soluções de mobilidade à dinamização económica, passando pela agilização no licenciamento para habitação e à construção de uma nova escola, João Nicolau listou propostas de “temáticas nos lugares onde a decisão afeta diretamente as pessoas”. Nesse sentido, sublinhou alguns chavões de orientação, incluindo “ouvir antes de decidir. Explicar quando se decide e avaliar depois de executar. Priorizar o essencial, gerir com prudência, aproveitar fundos europeus e do Orçamento de Estado e entregar obra com calendário e qualidade”.

A terminar o discurso, disse que “compete-nos virar a página com ambição e abrir janelas. Deixar entrar o ar novo pelos serviços, nas escolas, nas estradas, nas margens do Tejo e do Rio de Alenquer. Fazer do diálogo uma ferramenta, do compromisso uma ponte e da participação um método. Transformar proximidade em decisão e investimento em qualidade de vida. É o que vamos fazer”.

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