Gonçalo Pinto Azevedo, jovem autor alenquerense, venceu o prémio Afonso Lopes Vieira 2024, num concurso com diversas modalidades, dedicado nesta edição aos géneros conto e novela. O prémio literário tem como objetivo homenagear o poeta que lhe dá nome, natural de Leiria, bem como incentivar a criatividade literária, a descoberta de novos valores no campo das letras e o gosto pela escrita.
De um autor já com obra publicada, nomeadamente “Henrique Sabe de Todos”, o livro agora vencedor do concurso apresenta uma coletânea de contos com quatro partes distintas e quatro personagens principais. À conversa com a Voz de Alenquer, o escritor do concelho explicou que os quatro contos têm lugar em Lisboa e acontecem nos vários pontos da capital do país, que historicamente também estão relacionados com as transformações que as personagens vão vivendo. O livro, que já estava escrito, venceu o concurso, onde competiu com outros 140 livros, o número mais elevado de obras candidatas a este prémio.
Contactado pela vereadora de Educação de Leiria, a propósito do anúncio da vitória, o escritor mostrou-se agradado pelo comentário feliz do júri do concurso. “A sensação é sempre magnífica. Às vezes não temos ideia se aquilo que escrevemos interessa às pessoas, pode ser simplesmente uma partilha, e é prestigiante saber que houve pessoas com muita experiência no campo das letras a reconhecerem interesse no meu trabalho”, salientou o escritor. Para os intervenientes do júri que deliberaram a vitória do jovem escritor de Alenquer, “Inverso Sentido do Tempo”, nome da obra por ele produzida, “convida a pensar, sentir e refletir sobre a condição humana”.
A memória não é precisa, mas o gosto pela escrita esteve praticamente presente desde que se recorda. O livro já estava escrito antes do lançamento do concurso, tratando-se de uma obra inédita, ou seja, o livro não se encontra publicado, algo que acontece com alguma frequência nestes concursos literários. “Sei que quando deixei de brincar como uma criança, a fase da brincadeira evoluiu para a escrita. A escrita é uma forma de brincar com a realidade de um modo mais sério e adulto. Esta obra encaixava-se no perfil de obra que estava a ser pedido, quando surgiu a divulgação do concurso”, revelou.
À semelhança do concurso em que concorreu e do qual saiu vencedor, no distrito de Leiria, Gonçalo apresentou uma perspetiva similar para uma possível exploração do tema por parte da autarquia alenquerense: “Há muitas câmaras municipais a promover e organizar concursos literários e acaba por ser um incentivo à cultura. Dá prestígio às regiões e aos municípios, e a Câmara Municipal de Alenquer poderia eventualmente um dia avançar com uma ideia parecida. Muitas vezes, os escritores são pessoas bem acolhidas nas localidades pela população. Quase todas as vilas têm alguém que escreve, como por exemplo Damião de Góis, muito conceituado no seu tempo”.
No que diz respeito à vivência dos jovens e à sua relação com o mundo da escrita e da leitura, o jovem escritor ainda acredita nas potencialidades que os livros podem trazer ao crescimento das crianças e dos jovens e na experiência positiva no decorrer da aprendizagem. “Alguém que abra um livro tem de se sentir cativado por ele. Acredito que vai sempre haver uma parte da população que verá no livro uma experiência transformadora”, declarou o autor, acrescentando que “talvez não seja um conteúdo que todos gostem, mas não acredito que haja menos hábitos de leitura. Talvez haja sim muitos livros que possam não ter essa capacidade de transformar”.
Em relação a eventuais projetos que possam vir a ser publicados ou apresentados, Gonçalo Pinto de Azevedo deixou apenas uma certeza: “Hei de escrever sempre! Não me lembro quando comecei a fazê-lo, já o faço há muito tempo e eu acho que não vai deixar de acontecer, desde que seja possível. Daí a publicar… é um passo diferente. Escrever é uma atividade humana, eu pratico-a. Mas fazer a partilha e receber o comentário e a perceção das pessoas aumenta as dimensões daquilo que fizemos e acrescenta bastante valor e interesse ao nosso trabalho. Aprecio a dinâmica de construir algo e receber a perceção, por vezes diferente, das pessoas, explorando temas que não me surgiram”, concluiu. No dia 24 de janeiro, pelas seis da tarde, na Biblioteca Municipal de Leiria, será entregue o Prémio Literário Afonso Lopes Vieira ao vencedor desta edição.