Voz de Alenquer: Esta é a primeira grande entrevista ao candidato à Câmara Municipal de Alenquer, pela coligação de TODOS – PSD, CDS-PP e Iniciativa Liberal. É até ao momento o terceiro candidato conhecido às autárquicas deste ano. Foi noticiado que o PPM e o MPT apoiam também a candidatura de Francisco Guerra à Câmara de Alenquer. Confirma esta informação?
Francisco Guerra: Antes de tudo, quero agradecer o amável convite que me fez para estar aqui. Fui convidado logo no próprio dia em que apresentei a minha candidatura à Câmara, na Liga dos Amigos Alenquer. Por razões que se percebem, com marcação das Eleições Legislativas que tivemos e a conclusão dos termos do apoio da Iniciativa Liberal à minha candidatura, [houve demora] daí só estarmos aqui hoje. Relativamente à pergunta que me faz sobre o apoio dessas duas forças políticas à minha candidatura, ela não está excluída, mas ainda não a posso confirmar. Abrange não apenas as duas forças políticas citadas, mas de facto ainda não posso confirmar.
Há espaço para mais partidos entrarem na coligação?
Há espaço para mais forças políticas entrarem na coligação, nunca esquecendo o que está na origem desta coligação, onde os independentes têm um papel fundamental. Apesar de, percebe-se do ponto de vista de impacto da notícia, ter muita relevância obviamente o apoio dos partidos políticos, [é importante] não esquecer a dimensão de intervenção dos independentes na minha candidatura, como projeto alternativo ganhador nas próximas autárquicas.
O Francisco referiu que apareceu um movimento de cidadania e que o movimento é que foi contactando os partidos, ao contrário de uma coligação habitual. A primeira opção partiu, até porque, como referiu, é militante do PSD, por ter o apoio do Partido Social Democrata?
Eu digo desde o início que nenhuma força política ou partidária esteve na génese de minha disponibilidade para esta candidatura. [A candidatura] tem na sua génese o grupo de pessoas que deu origem à criação do movimento cívico do concelho de Alenquer, TODOS, que veio a formalizar e constituir este movimento cívico, depois da discussão de vários problemas de Alenquer, do Carregado, do concelho e do posicionamento do concelho no contexto regional e no contexto nacional. […] Desde o início que digo que este movimento cívico, com a importância que tem, nunca se pretende afirmar como existindo contra os partidos. Na verdade, existe um partido no poder a nível autárquico há cerca de 48 anos e, portanto, nenhum partido político por si só teria, na nossa ótica do movimento, teria capacidade de se afirmar como uma alternativa real de disputar o poder aqui nas autárquicas. Nunca esqueci as minhas raízes políticas, nunca as reneguei. Não tenho qualquer ligação à estrutura do PSD local, portanto não faria sentido ter avançado por aí. […] Sempre afirmei que não faria sentido avançar sem o apoio da chamada oposição formal ao atual poder. Também há uma experiência acumulada desses partidos.
Os apoios conhecidos até agora são apoios da direita. Nas listas, existe ou vão existir pessoas que estão mais ligadas ao espectro da esquerda?
Eu quero que isso aconteça, porque, no seio do movimento, isso acontece. É evidente que a disponibilidade para integrar listas, numa lógica vencedora, mais do que dar o nome, é afirmar uma disponibilidade. Aquilo que posso dizer e dar total garantia, sob palavra de honra, é que tudo irei fazer para que isso aconteça.
Portanto, as listas ainda não estão totalmente fechadas?
De todo.
Mas há data para uma apresentação formal?
A sua pergunta é divisível em duas questões. Estaremos em condições, a breve trecho, de indicar os cabeças de lista a todas as freguesias e aos órgãos municipais, eu diria perto do final do mês em que nos encontramos, se tudo correr como está a correr, e é nisso que estamos empenhados. Relativamente à composição total de cada uma das listas que compõem cada uma das freguesias, é possível que isso ainda não esteja fechado nessa altura.
Ainda não sabemos quem compõe a coligação, mas no boletim de voto irá aparecer a coligação TODOS? É essa a ideia com os partidos?
A ideia é a coligação receber o nome do movimento TODOS. Enfim, isso ainda não está decidido, mas, sim, será o movimento a batizar a coligação. Portanto, aparecerão no boletim de voto as siglas dos partidos que integram a coligação em torno da minha candidatura.
Candidata-se com o objetivo de ser presidente de Câmara. Caso isso não aconteça, vai exercer o mandato de vereador, sendo eleito?
Fui educado por um enorme respeito à democracia e, embora eu tenha dito isto desde o início, também gerou alguma confusão. Eu não sou candidato a vereador da Câmara Municipal de Alenquer. Eu sou candidato a presidente da Câmara. Agora, obviamente, se os cidadãos e as cidadãs do concelho de Alenquer não me derem essa honra, esse privilégio de vir a presidir aos destinos da Câmara Municipal, eu iria assumir com total fair play democrático o lugar que me caberia de vereador.
Sobre as Águas de Alenquer, uma questão que tem sido muito falada, existe uma empresa neste momento que gere esse serviço. Deve o serviço ser municipalizado ou deve continuar a ser uma gestão externa?
Eu tenho algum à vontade sobre esta e outras matérias, porque na verdade não tive qualquer responsabilidade sobre aquilo que se passou na Câmara Municipal de Alenquer até hoje, e portanto não deixo de notar com alguma surpresa algumas posições que são politicamente assumidas por quem tinha responsabilidades políticas antes. Dito isto, hoje está mais que provado que o melhor sistema para gerir a questão das águas é através de uma empresa municipal. Nós temos o excelente exemplo de Oeiras e de Sintra. Eu diria, num plano ideal, que era isso que faria sentido. Agora, eu sou advogado. Os contratos são para cumprir e sabemos que existe um contrato. Que garantia posso dar? A monitorização absoluta do cumprimento do contrato que está em vigor e crer que isso não está a ser feito. O contrato impõe obrigações ao concessionário que, de acordo com as informações que eu detenho, não estão a ser cumpridas, e a exigência do cumprimento, que não se faz através de um WhatsApp nem de um telefonema, faz-se de uma carta registada ou de um e-mail formal a notificar a empresa do incumprimento das suas obrigações.
É uma questão muito popular entre as pessoas, porque de facto a água já não é das mais caras no país, mas foi das mais caras e o serviço não é totalmente de qualidade…
Eu não estou a defender o contrato, mas essa é a gravidade da questão. É que, com o custo da água, o serviço teria que ser de uma qualidade substancialmente acima daquilo que acontece. E nada acontece. Não há exigência. Dito de outra forma, os contratos não podem ser rasgados, há consequências jurídicas. Agora, uma auditoria jurídica ao contrato, isso tem a minha garantia absoluta. Eu estou convencido que, se do lado da Câmara tivesse havido, este tempo todo, desde o momento da assinatura do contrato até ao dia em que nos encontramos, uma exigência total e rigorosa junto da empresa para cumprimento do contrato, designadamente na substituição de equipamento, a que está obrigada pelo contrato, tinha sido a própria empresa das águas a querer rasgar o contrato.
Sobre questão das escolas, Alenquer continua a receber pessoas que têm filhos e todos os anos tem havido alguma polémica em torno da falta de vagas para alunos…
Não há capacidade de escolas, nem de hospitais, nem nenhum tipo de serviços públicos. Se o problema não for corrigido ou não começar a ser corrigido do lado do sítio onde é gerada a pressão sobre esses serviços, é por aí que temos que entrar. O bar aberto no Carregado tem que fechar. A situação de uma vinda massiva, com processos de atribuição demorada, de origem duvidosa. Em Lisboa, nós, portugueses, temos a mesma situação com juntas de freguesia que são um bar aberto. Santa Maria Maior e outras freguesias em Lisboa, como é o caso de Arroios, onde o bar já fechou. Nós estamos a prejudicar-nos todos. Estamos a prejudicar quem chega e estamos a prejudicar quem já cá está. Isso não pode ser. Porque a minha dimensão humanista, se quiser, assim o exige, nós para receber temos que ter garantias de integração. […] Nós não queremos mais guetos. Respondendo concretamente à questão das escolas, resolvido o problema da pressão, temos que ver qual é a capacidade instalada, qual é a capacidade que pode crescer através de obras, com a intervenção do Governo central, com incentivos locais. Isto aplica-se quer à fixação de professores quer à fixação de médicos. Nada disto é inventar a roda. […] O Carregado tem tudo para ser a melhor cidade a norte de Lisboa. Temos que criar emprego, mas temos que criar emprego atraindo investimento, melhor investimento. Nós estamos a atrair o investimento que quer vir para aqui, temos que ser nós a escolher o investimento que queremos aqui. […] Temos que atrair investimentos de empresas que criem melhores empregos, que remunerem melhor os jovens, onde os jovens se queiram fixar, queiram ter os seus filhos, queiram que os seus filhos estudem aqui, criem ligações à terra, onde os problemas da desertificação e da criminalidade estão ligado ao desenraizamento.
Caso seja eleito presidente de Câmara, qual é que vai ser a sua primeira medida?
O programa eleitoral irá ser feito com o envolvimento de pessoas indicadas pelos partidos políticos, por pessoas do movimento TODOS e pelos tais muitos independentes que ainda se estão a juntar a nós. […] A primeira decisão terá que ser do ponto de vista da reorganização da Câmara Municipal. O serviço público que é prestado pela Câmara é deficientemente prestado. […] Acho que não há nenhum problema de saúde pública nos funcionários da Câmara de Alenquer que os faça ter um problema de mau desempenho na prestação do serviço, portanto para mim, enquanto os trabalhadores forem mal vistos, a culpa será sempre da organização e das chefias. Teremos que ter um trabalho de reorganização e de estímulo, recuperar o brio no trabalho às pessoas que servem o nosso município. Por outro lado, contrabalançar as medidas de médio prazo com as de curto prazo.