Cinco alunos da Escola Básica 2,3 Visconde Chanceleiros receberam uma menção honrosa pela participação no concurso “Orienta-te” promovido pela Fundação AGEAS que lançou o desafio às escolas de criarem projetos de raiz que envolvessem os alunos em todo os momentos, desde a escolha da ideia até à planificação financeira.
Carla Sal, professora que acompanhou os estudantes durante todo o processo, explica que foram os cinco alunos que trataram de todos os aspetos necessários para dar vida a uma ideia. “Os alunos tinham de desenvolver um projeto onde mostrassem tudo, desde como é que tinha surgido a ideia, que valores é que iam necessitar, onde é que iam ser aplicados, etc. Ou seja, eles iriam tentar dominar as temáticas todas da literacia financeira e como é que podiam dar a volta a algum imprevisto que pudesse surgir.”
João Rodrigues, Milene Cordeiro, Mariana Costa e Afonso Miguel criaram a “Ação A”, um projeto direcionado para a população idosa do concelho, onde os cinco alunos se iriam transformar em autênticos “moços de recados” para aqueles que não tinham possibilidade de realizar algumas das tarefas mais essenciais. A iniciativa pretendia também envolver os mais idosos em atividades lúdicas para mitigar o isolamento e a solidão destas pessoas. “Eles são a geração Covid e deram conta de um problema grave na Merceana, que também atinge o resto do concelho de Alenquer, que é a separação entre as terriolas. Eles perceberam que as pessoas que eram diretamente afetadas pelo vírus ficavam muito isoladas e tinham dificuldade em fazer as coisas chegarem até elas. Tendo isso em mente, os alunos criaram uma ‘empresa’ onde eles eram, basicamente, os moços de recados. Deslocavam-se de bicicleta, apontavam e faziam os recados para as pessoas, como ir buscar medicamentos à farmácia, passar no talho ou no supermercado”, detalha a professora Carla Sal.
A atribuição da menção honrosa por parte do júri traduziu-se num prémio de mil euros, entregue aos Bombeiros Voluntários da Merceana, que conseguiram assim comprar sete capacetes de combate a incêndios. “Neste momento a Merceana tem um bocadinho de nós nos Bombeiros e isso sabe muito bem”, acrescenta Carla Sal entre risos.

“A literacia financeira faz falta a todos”
Agentes económicos, impostos, juros, empréstimos, poupança, receita, despesa, são temas com os quais os alunos da Escola Básica 2,3 Visconde Chanceleiros tiveram que lidar, mas que muitas vezes nem os próprios adultos dominam totalmente. Apesar de a economia ser uma parte essencial da vida de qualquer cidadão, é uma ciência que traz muitas dúvidas a grande parte dos portugueses.
Para Carla Sal faz falta uma disciplina dedicada à literacia financeira nos estabelecimentos de ensino. “É algo que falta às escolas, mas não só, falta às famílias e ao próprio cidadão. Nós temos tendência a ignorar muitas das coisas que às vezes deveríamos saber. No concelho de Alenquer isso tem vindo a ser incentivado desde pequeninos com o projeto do empreendedorismo, mas mesmo assim há coisas que nós não podemos falar nessa disciplina porque não faz muito sentido. Mas também devia ser uma lição, por exemplo, para o nosso núcleo familiar”.
Para o aluno João Rodrigues a literacia financeira também devia ser uma disciplina ou um tema mais abordado nas aulas, “porque seria uma mais valia para a vida dos estudantes”. Os alunos descrevem a experiência como enriquecedora e gratificante. “Sem dúvida que participar nesta experiência me deu muitas competências para o futuro, primeiro porque ficámos a conhecer novos conceitos sobre a temática da literacia financeira que podem ser muito úteis quando no futuro construirmos a nossa vida profissional e depois porque também nos ajudou a dar mais valor ao que custa o dinheiro e a perceber que devemos poupar e gastar conforme as necessidades”, explica João Rodrigues.
No balanço da experiência Carla Sal sublinha o empenho dos cinco alunos, que continuaram a trabalhar no projeto mesmo depois de as aulas já terem acabado. “No grupo há alunos que têm necessidades especiais e ver um aluno nessas circunstâncias a apresentar um projeto para o país inteiro, porque a apresentação foi transmitida em direto na página de facebook da fundação, foi muito bom. E estes alunos estão ainda mais de parabéns porque a nível pessoal não receberam nada, nem sequer um lanche”, complementa.
Para o grupo a “cereja no topo do bolo” de toda esta experiência foi receber a menção honrosa. “Foi gratificante saber que o nosso trabalho foi reconhecido e apreciado por milhares de pessoas, foi um grande orgulho para nós”, diz João Rodrigues, que insistiu em deixar uma nota de agradecimento à professora Carla Sal: “A nossa professora sempre acreditou em nós e soube desde o primeiro dia que íamos longe. Queremos agradecer à professora Carla Sal, que foi nossa diretora de turma durante três anos. Para mim e para o nosso grupo foi um gosto trabalhar com ela”.
(Fotos: Facebook Bombeiros Voluntários da Merceana)