Depois de uma providência cautelar ganha pelos habitantes do Passinha, seguiram-se avanços e recuos. As duas localidades juntaram-se posteriormente numa nova providência com vista a proibir a passagem dos camiões, medida também vitoriosa, mas da qual a empresa de transportes recorreu.
Em declarações à Voz de Alenquer, Nádia Loureiro, moradora dos Casais Novos, afirmou que, apesar da sinalização existente que proíbe a passagem, os camiões continuam a circular. “Os camiões continuam a passar, independentemente da sinalização proibida aqui nesta rua. Existem prevaricadores que continuam a passar. Nós temos feito imensas queixas à GNR nesse sentido, e é o ponto em que estamos agora”, lamentou.
A moradora manifestou ainda descontentamento com a falta de fiscalização por parte das autoridades: “O seguimento que têm dado às nossas queixas até agora tem sido muito pouco. Temos enviado as queixas, temos ido lá, entrado em contacto, mas não tem surtido efeito. Talvez falte algum tipo de ação”, referiu.
Os habitantes apontam igualmente falta de resposta da Câmara Municipal de Alenquer, acusando a autarquia de não ter encontrado uma solução eficaz. Para Nádia Loureiro, “isto é um bocado uma bola de pingue-pongue, porque a Passinha, para resolver o problema deles, empurra a questão para a Câmara Municipal, que deveria criar uma via alternativa e dedicada à passagem dos camiões. Depois, nós, para nos defendermos e termos direito ao nosso descanso, ficamos prejudicados. O que é certo é que, antes da providência, os camiões não passavam aqui, nem de dia nem de noite. Agora, continuam a passar”.
A moradora sublinhou também que, embora o Passinha e os Casais Novos enfrentem situações diferentes em termos de dimensão do problema, a união dos residentes tem sido fundamental: “Se eu sentisse que estavam a construir uma plataforma logística a 20 metros da minha casa, como aconteceu no Passinha, talvez tivesse agido de outra forma, para perceber o impacto que teria. Aqui, nesta rua, são 47 habitações afetadas, enquanto no Passinha são muito menos. Como somos mais, conseguimos juntar-nos, pagar e avançar com os recursos”, explicou.
O impacto da passagem dos camiões faz-se sentir não apenas no sossego e no descanso, mas também na saúde dos moradores. “Queremos lutar pelos nossos bens, pela nossa saúde e pelas nossas crianças. Há crianças cujos problemas de saúde se têm agravado devido à falta de descanso. O meu filho, por exemplo, durante quatro anos não conseguiu dormir no quarto dele por causa do barulho dos camiões durante a noite”, relatou Nádia Loureiro, acrescentando que a comunidade “se mantém unida e vai continuar a lutar”.
O estudo de tráfego preparado para o licenciamento da empresa não prevê a passagem dos camiões pela localidade dos Casais Novos. A empresa Santos e Vale recorreu recentemente do segundo acórdão do Tribunal de Segunda Instância para o Supremo Tribunal Administrativo do Sul, e esperam-se novos desenvolvimentos nas próximas semanas. Enquanto isso, os moradores continuam à espera de uma solução definitiva.
A decisão anterior durou cerca de três meses. “Nós vamos responder ao recurso que a empresa Santos e Vale colocou ao Supremo Tribunal”, indicou Nádia Loureiro, acrescentando que “isso esgota os recursos que a empresa pode fazer”. Para a moradora, “cada cabeça sua sentença”, e os habitantes dos Casais Novos pretendem continuar a lutar.

Foto: Casais Novos