PSD Alenquer: Vereador e concelhia em divergência

Nuno Miguel Henriques diz que a concelhia do PSD está “ilícita” e afirma que “nesta data, eu serei candidato à Câmara Municipal de Alenquer”. Pedro Alves, coordenador autárquico do PSD, contrariou as declarações prestadas pelo vereador.

Na conferência de imprensa de dia 17 de outubro, agendada por Nuno Miguel Henriques, eleito pelo PSD nas autárquicas de 2021, o vereador criticou a atuação da concelhia do PSD de Alenquer. O vereador lamentou que “não tivesse existido concelhia e militantes empenhados” quando assumiu o papel de candidato à Câmara Municipal de Alenquer e garantiu que veio para Alenquer porque foi convidado e não porque foi “imposto”, acrescentando que “o compromisso que eu tenho é para oito anos, porque o primeiro mandato será para as pessoas me conhecerem”.

Nuno Henriques não poupou nas críticas e disse que as pessoas “tentaram encontrar aqui um bote expiatório para os interesses instalados”, revelando que alguns militantes do PSD aceitaram ser candidatos às juntas de freguesia, mas depois disseram que não, porque “foram pressionados”. O vereador acrescentou que “acabaram com uma suposta coligação [PSD e CDS] que poderia ter dado frutos”, assumindo que “tentámos tudo o possível e imaginário” para que essa coligação não acabasse. O vereador disse ainda que “inventaram uma candidatura”, referindo-se à candidatura independente de António Franco ao município de Alenquer, que acredita ter sido feita com o objetivo de o PSD obter um mau resultado nas eleições.

“A partir daí, tudo isso é ilícito”

Um dos fatores que Nuno Miguel Henriques indicou para o facto de a concelhia estar ilícita passa por, enquanto eleito, ele próprio pertencer à “Comissão Política, segundo os estatutos do PSD”. No entanto, o vereador assumiu que nunca foi convocado para uma reunião e por isso “a partir daí, tudo isso é ilícito”. Outro fator é o caso de António Franco, candidato independente nas últimas eleições autárquicas, que assumiu agora um lugar na Comissão Política do Partido Social-Democrata. O vereador do PSD referiu que este caso é “proibido pelos estatutos” e que fez queixa no Conselho de Jurisdição do partido. 

Nuno Miguel Henriques afirmou que “nesta data [17 de outubro], eu serei candidato à Câmara Municipal de Alenquer”. Quando confrontado com o facto de o candidato ser escolhido pela concelhia, o vereador disse que “nunca foi a concelhia a decidir, nem sequer a distrital, foi sempre uma decisão nacional”, garantindo que já foi abordado pelo “coordenador autárquico” do Partido Social Democrata sobre o assunto da candidatura em 2025. 

Apesar de todos os fatores apontados à concelhia local, Nuno Miguel Henriques expôs que “há condições para haver um diálogo”, revelando que o partido a nível nacional “está empenhado nesse sentido”.

Concelhia reagiu às declarações

Em declarações ao jornal Nova Verdade, Cristina Inácio, presidente da concelhia do PSD de Alenquer, reagiu à polémica. A líder do partido em Alenquer assegurou que, na anterior concelhia, “o vereador foi convocado três vezes para uma reunião”. Disse ainda que a atual estrutura está “solidária com a concelhia anterior” e que, por isso, mantém a retirada da confiança política ao vereador eleito. Quanto ao facto de a concelhia estar “ilícita”, Cristina Inácio referiu que prefere “esperar pela resposta do Conselho de Jurisdição do partido”.

Na sequência da questão sobre a escolha do candidato para as próximas eleições autárquicas, a concelhia do PSD de Alenquer enviou um comunicado conjunto com a distrital do partido, onde esclarece que “de acordo com os estatutos do PSD, os candidatos autárquicos são escolhidos e propostos pelos órgãos locais do partido”, reforçando que as “listas são elaboradas pelas estruturas partidárias locais, em articulação com as estruturas distritais, a quem compete aprovar segundo e nacionais, a quem compete homologar”.

Coordenador autárquico contraria vereador

Na manhã desta sexta-feira, dia 3 de novembro, o líder do Partido Social Democrata, Luís Montenegro, esteve em Alenquer. Vistou o Mercado Municipal no centro da vila e os Bombeiros Voluntários da Merceana. A visita foi acompanhada pela concelhia do PSD.

Pedro Alves, coordenador autárquico do Partido Social Democrata, integrou a comitiva que visitou o concelho e procurou a Comunicação Social para esclarecer as declarações prestadas por Nuno Miguel Henriques na conferência de dia 17 de outubro referentes a uma eventual candidatura às autárquicas de 2025 com o conhecimento da coordenação autárquica do PSD. “Isso é um perfeito disparate e um absurdo. Em primeiro lugar, porque não se escolhe um candidato a uma Câmara nesses termos, há um respeito integral por aquilo que são os procedimentos internos a nível estatutário, sendo que as concelhias têm a competência de propor e aprovar candidatos”, garantiu Pedro Alves, negando quaisquer indicações de apoio a uma futura candidatura: “A única coisa que conversei com o senhor vereador foi saber o trabalho que andava a fazer, como faço com todos aqueles com que tenho essa oportunidade, e perceber que tipo de ambiente e de trabalho está a ser [feito] no concelho”.

O coordenador aproveitou a ocasião para explicar como funciona a seleção dos candidatos autárquicos: “É sempre a concelhia que propõe [os candidatos], a distrital aprova e a nacional homologa essas candidaturas. É um processo que, às vezes, pode criar alguns diferendos […] não é o caso aqui, em que me parece que há sintonia entre a vontade da concelhia eleita e a eventual comissão política distrital futura. A partir daqui, o processo está estabilizado, e não estou a ver nenhuma direção nacional, seja ela qual for, a fazer uma interferência ou uma ingerência num processo que tem estabilidade dentro dos órgãos do partido”.

Pedro Alves confirmou ter consciência das divergências entre o vereador eleito pelo PSD e a concelhia de Alenquer: “Apercebi-me dessas divergências, respeito a posição das pessoas, no entanto, temos que perceber que o senhor vereador tem, pelo menos, a obrigação e o dever de coordenar a sua atuação nos termos dos estatutos com a comissão política de secção, que tem a competência de coordenar o trabalho dos autarcas eleitos”. 

Relativamente ao apoio da nacional à decisão da concelhia, o coordenador autárquico esclareceu: “Esse é o caminho mais normal. Eu creio que a concelhia que está eleita, para além da legitimidade que tem, é uma concelhia com um sentido de responsabilidade nas opções que são necessárias fazer e nas escolhas que têm de ser feitas, para que Alenquer tenha uma candidatura e um projeto político capazes de mobilizar e de mudar Alenquer”. Pedro Alves referiu ainda a inexistência de uma escolha para 2025: “Obviamente que não [há candidato escolhido para autárquicas] e mais, haverá ainda eleições pelo meio, pelo menos para os órgão nacionais, e serão esses órgãos nacionais que irão dirigir o processo de escolha de candidatos”.

O vereador eleito pelo PSD em Alenquer, Nuno Miguel Henriques, não esteve presente no encontro.

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