Como a Voz de Alenquer noticiou na última edição impressa, por ordem do Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa, a Câmara Municipal de Alenquer ficou obrigada a proceder à “regulação provisória do tráfego de veículos pesados nas localidades de Passinha, Casal Machado e Casais Novos, nas vias indicadas – na localidade de Casal Machado, Rua do Batalheiro; na localidade de Casais Novos, Avenida da Juventude; e na localidade de Passinha, continuação da Avenida da Juventude –, prevendo a interdição da passagem de veículos pesados em tais vias no período noturno e fixando o respetivo regime de fiscalização”. A decisão surgiu na sequência da providência cautelar que os moradores interpuseram.
O tribunal sublinhou ainda que os moradores contaram centenas de camiões a circular nestas vias todos os dias, quando o estudo de tráfego apresentado pela empresa previa a passagem de 20 veículos durante o dia e até sete veículos no período noturno. Segundo o documento a que a Voz de Alenquer teve acesso, o tribunal reconheceu que os moradores se encontram “em estado de privação de descanso, em concreto de sono e repouso adequado”, devido à passagem dos veículos pesados por aquela zona.
Contudo, apesar da decisão e da sinalização colocada no local, o trânsito de pesados na zona continua e os moradores dos Casais Novos alegaram passividade das autoridades locais na fiscalização e apresentaram uma participação formal dirigida ao Comandante-Geral da Guarda Nacional Republicana (GNR).
Passividade na fiscalização
Na sequência dos acontecimentos, a Voz de Alenquer falou com Uriel Oliveira, morador dos Casais Novos, para conhecer e compreender a perspetiva dos residentes acerca do estado atual da situação. De acordo com o morador, a autarquia “foi condenada a fiscalizar o trânsito. Por forma a conseguir executar essa fiscalização, colocou sinalização nesta rua, que proíbe a circulação de pesados, conforme a sentença, das oito da noite à oito da manhã. As placas foram colocadas na passada sexta-feira, 23 de maio. Os camiões continuaram a passar. Passaram na sexta-feira, passaram no domingo, passaram ontem [segunda-feira, 26], ontem muitos. Nós chamámos a GNR, a GNR dirigiu-se ao local apenas quando os ânimos começaram a exaltar-se na rua, ou seja, um aglomerado muito grande de pessoas, moradores daqui, que começaram a exaltar-se, a fazer barulho e a reclamar com os condutores”.
“A GNR lá se deslocou, mas não estava a identificar os condutores. Mandava-os parar, dizia que eles não podem circular aqui e mandavam-nos seguir. Nós começámos a exaltar-nos ainda mais, porque não estavam a identificar e a autuar os condutores”, começou por explicar Uriel, acrescentando que, “passado muita insistência nessa matéria, eles identificaram dois condutores, dos vários que passaram e continuaram a passar a noite toda. Eles [GNR] foram embora às onze e tal da noite e [os camiões] continuaram a passar a noite toda. Várias dezenas deles. Fui apresentar queixa à GNR dos restantes camiões que continuaram a passar, e fizeram muita resistência à receção da queixa, da participação, e inclusive não me deram o número de registo de protocolo, ou seja, de entrega de documentos”. Uriel Oliveira sublinhou que voltou a enviar uma participação por e-mail, para “haver um registo físico”.
Morador foi agredido
O desentendimento entre habitantes e motoristas escalou e resultou na alegada agressão a um morador dos Casais Novos. A vítima descreveu o episódio através de uma publicação nas redes sociais, onde relata que por volta “das 21h30min tirei foto à frente de um pesado com a identificação da matrícula e fiz sinal que era proibido transitar ali àquela hora, conforme sinalização colocada no início da rua. O condutor imediatamente parou, saiu e agrediu-me. O autor material da agressão terá sido identificado pela GNR, que entretanto foi chamada ao local, e agora terei que apresentar queixa presencial na GNR para seguir para o Ministério Público”.
Segundo Uriel Oliveira, a GNR tinha sido contactada previamente por diversos moradores para ir ao local, mas apenas apareceu após os desentendimentos “com um dos condutores, que não era da Santos e Vale, mas estava a conduzir um pesado, e que, quando confrontado por um residente, que estava a fazer sinais com as mãos a dizer ‘atenção que está ali uma placa e não pode passar por aqui’, pára a viatura, sai da viatura e agride, dá um empurrão, o morador, que cai no chão e faz escoriações no cotovelo. A GNR recusou-se a receber a queixa desse morador”.
