Tudo começou em 2006, num típico jantar de natal de amigos. Antigos colegas de escola, amigos da vila, uns mais próximos, outros afastados pelas contingências da vida, reuniam-se para lembrar tempos passados. Após a refeição, houve música, nomeadamente dos anos 80, e a festa durou pela madrugada dentro. Esta é a origem de uma das festas mais badaladas da região, que regressa ao formato “natalício” em 2023.
O filme “Streets Of Fire”, de 1984, deu o mote ao regresso ao mês de dezembro das festas dos Loucos 80, um grupo de amigos de Alenquer que já habituaram conterrâneos e visitantes a noites de muita diversão.
Em entrevista à Rádio Voz de Alenquer e ao jornal Nova Verdade, José Duarte e Hélder Pereira recordam a evolução que o projeto tem conhecido. “Começámos com um simples jantar e a verdade é que hoje este é um evento que nos obriga inclusivamente a tirar férias para podermos organizar tudo convenientemente. Dentro do nosso grupo, temos responsáveis por diferentes áreas da organização, de forma a que tudo resulte como tem resultado até aqui”, explica Hélder Pereira.
O Natal é, por tradição, a altura em que as festas dos Loucos 80 acontecem. Houve uma exceção, em abril deste ano, que serviu para comemorar o regresso da possibilidade de fazer eventos deste tipo no pós-pandemia. Pelo meio, algumas presenças em eventos locais, como aconteceu, por exemplo, no Made In Alenquer. Agora, dá-se o regresso ao mês de dezembro, no local da festa de abril, mas com algumas diferenças. “Desta vez não existe nenhum espetáculo pela mesma altura, como aconteceu com o José Cid em abril, e por isso tivemos de suportar nós a totalidade dos custos da estrutura. E apesar da tenda da última festa ter todas as condições, desta vez optámos por outro tipo de estrutura, que se adapta mais ao nosso tipo de festa e estamos confiantes que vai resultar”, afirma José Duarte.
Festas que unem gerações
As festas dos Loucos 80 unem gerações. Apesar da música ser, essencialmente da década em questão, o horário prolongado do evento faz com que várias gerações passem pelo espaço, desde os mais novos, que habitualmente chegam mais tarde, aos mais experientes, que são os primeiros a entrar. “Há quem chegue logo no início do horário, às 22h, para poder reencontrar amigos, conversar, até porque nessa altura a música ainda não está muito alta. Depois, quando já temos a casa composta, é aberta a pista, muito dentro do conceito que se vivia na altura nas discotecas, e a partir daí é sempre a entrar gente. Os mais novos normalmente são os últimos, entram já depois da uma manhã”. Este entra e sai de amigos destas festas faz com que exista uma grande rotação dentro do espaço, ainda assim os números da última edição, em abril, falam por si. “No total tivemos cerca de três mil pessoas, mas não todas ao mesmo tempo. O máximo que tivemos, em simultâneo, rondou as duas mil pessoas”.
O elevado e cada vez maior número de pessoas que querem estar nas festas dos Loucos 80 leva a que, nesta altura, não exista nenhum espaço no concelho que possa receber o evento, levando a que seja necessário recorrer a recintos improvisados, como volta a ser o caso. “De início ainda deu para realizarmos as festas em espaços já existentes, era também uma forma de dinamizar esses mesmos espaços, mas a partir de um certo momento deixa de ser possível, não só pelo número de pessoas como também por questões de logística e de segurança”, explica José Duarte, que fala também sobre o dinamismo que este evento já consegue dar a várias áreas de negócio da Vila Presépio: “Além das pessoas que vão jantar antes da festa e que vão fazê-lo nos restaurantes de Alenquer, sabemos que há muita gente que gosta de ir à festa mais arranjada e que nesse dia vai ao cabeleireiro, à manicure, etc. Isso também nos dá muito gozo, saber que as pessoas gostam de ir no seu melhor à festa dos Loucos 80”.

A “loucura” que deu origem ao nome
Muitos falam dos Loucos 80 e alguns já se terão interrogado sobre a origem do nome com que este grupo de amigos se batizou a si próprio. E se o 80 é relativamente fácil de entender, a palavra Loucos surge, precisamente, da dose de loucura (saudável, entenda-se) que é preciso ter para entrar numa aventura como esta. “O nome acabou por estar ligado a isso, sim. Porque muitas pessoas nem sequer têm noção da dimensão que esta organização tem. Na última festa, por exemplo, tivemos mais de 100 pessoas a trabalhar no evento, antes disso ainda todo o trabalho de montagens, que é feito por nós. Dentro dessa ideia, da loucura que é entrar nisto, surgiu o nome dos Loucos 80”, explicam José Duarte e Hélder Pereira, dois dos elementos da organização.
A prova de que esta é realmente uma loucura saudável está no facto de parte dos lucros ser entregue a instituições, coletividades e organizações do concelho. Muitas já receberam ajuda e essa continua a ser uma realidade destes eventos. Além do valor que é guardado para a edição seguinte, para ajudar a fazer face às despesas de uma organização desta dimensão, há sempre uma parte da receita que é distribuída por instituições locais, como, por exemplo, os Bombeiros Voluntários. Mas nem só dos valores angariados em cada festa vive esta organização. Além disso, é sempre necessário um enorme apoio por parte de patrocinadores e Hélder Pereira e José Duarte reforçaram a importância dos Loucos 80 continuarem a ser bastante bem recebidos pelos empresários locais. “Sem dúvida que essa é uma parte fundamental, uma vez que sem essa ajuda não seria possível e naturalmente que temos de deixar aqui uma enorme palavra de agradecimento pelo apoio que nos dão, dentro das possibilidades de cada um, e que, tudo somado, ajuda a tornar possível estes grandes eventos”.
Gala VIVAlenquer reconheceu mérito dos Loucos 80
Pouco menos de um mês antes da realização da festa de 17 de dezembro, os Loucos 80 foram distinguidos com o Galardão “Evento do Ano” na Gala VIVAlenquer, uma organização da Rádio Voz de Alenquer. Os votantes elegeram esta organização entre quatro nomeações feitas pelo júri e o prémio acabou por ser uma surpresa. “Sinceramente não estávamos à espera, porque fazíamos parte de um grupo de eventos nomeados de grande qualidade e qualquer um era um justo vencedor. Mas queremos agradecer a todos aqueles que votaram em nós e são esses mimos que nos ajudam a ter a tal coragem e loucura para continuarmos a conseguir organizar estas festas”, reconhece José Duarte, que aproveita ainda para reforçar a mensagem que passou no momento em que falou na Gala VIVAlenquer após receber o galardão. “Disse-o na gala e repito agora a mensagem de que é por amor que isto é possível. O amor que quem nos apoia tem pelo nosso esforço, o amor que esta equipa tem pelo evento e que nos faz gastar tempo das vidas pessoais para tornar isto possível, o amor que temos por todos aqueles que, festa após festa, enchem os espaços e, claro, o amor de todas essas pessoas pelo que fazemos, que é traduzido na presença nas festas. Isto também é amor”, completa.