Aos 12 anos, Sandra Menino entrava pela primeira vez numa sala de cinema completamente sozinha para ver “Regresso ao Futuro”, um filme que ainda hoje faz parte da sua lista de favoritos. Estava longe de imaginar que um dia iria fazer parte dos bastidores da realização de vários filmes, mas a paixão pela sétima arte já a levava até às salas de cinema onde passava horas. “Durante a adolescência cheguei a sair de uma sala e a entrar logo noutra para ver dois ou três filmes de seguida”, confessa Sandra Menino.
Apesar de sempre se ter interessado pelo cinema, foi o acaso que a levou até este mundo. “Eu já estava ligada à produção de eventos desportivos. Um dia o meu primo, que é ator, pediu-me boleia para ir fazer um casting. De repente estava no Jamor, num casting para uma peça de ópera. A seleção de atores demorou horas e eu acabei por ficar à conversa. Às tantas convidaram-me para fazer parte da produção dessa ópera. Aceitei logo, até porque sempre tive muita curiosidade por tudo e por aprender coisas novas”. Anos mais tarde estreava nas salas de cinema o primeiro filme produzido por Sandra Menino. “Pesadelo Cor-de-Rosa” foi lançado em 1998 e juntava Diogo Infante e Catarina Furtado.
Como produtora do filme, fazia parte das responsabilidades de Sandra Menino representar o filme nos diversos festivais internacionais. O “Pesadelo-Cor-Rosa” levou o sonho de Sandra até Los Angeles, nos Estados Unidos da América, onde decorria o American Film Festival. A alenquerense apaixona-se pela cidade, onde acaba por viver 18 anos, a trabalhar como produtora de cinema. “Para quem quer trabalhar no mundo da sétima arte faz sentido ir para aquilo a que chamam a capital mundial do cinema”, reforça.
Das quase duas décadas em que esteve em Los Angeles, Sandra recorda sobretudo a diversidade que caracteriza Los Angeles. “É uma cidade de onde praticamente ninguém é natural. Desde americanos de outros estados que vão para Los Angeles para trabalhar e cinema a estrangeiros do resto do mundo que vão para ali com o mesmo propósito. Mas é fascinante. É uma cidade que desperta o nosso lado criativo. Não há dois dias iguais. As pessoas vêm de todo o mundo, são muito diferentes umas das outras e para quem gosta de cinema é o sítio ideal”.
Embora tenha convivido com equipas de múltiplas nacionalidades, Sandra confessa que prefere trabalhar com portugueses. “Prefiro mil vezes trabalhar com equipas portuguesas do que com equipas americanas, nós temos aquela coisa do ‘desenrasque’. Durante todas as etapas da realização de um filme, por muito que se planeie, e tem sempre de haver um planeamento extensivo, nunca nada corre exatamente como pensamos”.

A produtora lembra até um percalço que teve no seu primeiro filme para ilustrar a forma como o filme vai mudando também conforme as circunstâncias. “Tínhamos uma cena romântica do Diogo Infante e da Catarina Furtado numa praia que escolhemos na zona de Sesimbra, mas tinha havido uma tempestade que tinha levado a areia. Portanto, a cena romântica deles aos beijos no braço um do outro passou a ser numa praia horrível só com calhaus”, conta entre risos.
Sandra Menino admite que ser produtora é um trabalho desgastante, “chego a perder 10 quilos durante as filmagens”, relata, mas recorda com carinho os momentos que marcaram as gravações do seu último filme “Contraluz”, com Joaquim Almeida. “Estávamos a filmar nos arranha-céus de Downtown, em Los Angeles, e lembro-me de estar a comandar aquela equipa (eram perto de 100 pessoas) e tínhamos uma cena muito complicada com duplos, onde uma rapariga ficava pendurada na parte de fora do prédio. Tínhamos as ruas fechadas para não assustar quem fosse a passar e recordo-me de estar no topo do arranha-céus, de fechar os olhos a absorver tudo aquilo, e de me sentir muito orgulhosa por as coisas estarem a correr bem, por estar naquela cidade linda a fazer aquilo que gosto. Foi muito especial”, descreve.
O ponto e vírgula na carreira de Sandra Menino
A equipa de produção é o motor de cada filme. Muitas vezes, explica Sandra Menino, o produtor é a primeira pessoa a ter contacto com o guião. “É quem se apaixona pela história e decide realizá-la. Para isso tem de arranjar financiamento, contratar o realizador, os atores e a restante equipa que vai tornar o filme possível”.
Depois de encontradas as peças base do filme, a produção começa a tratar de todos os pormenores que compõem a longa-metragem. “Escolhemos os sítios onde vão ser gravadas as cenas, tratamos da parte financeira, da alimentação, dos carros para transportar o material, do guarda-roupa, dos hotéis, de tudo”, descreve.
Apesar de ser essencial para qualquer obra, Sandra acredita que o papel de produtor é ainda muito esquecido. “Na cerimónia de entrega dos Óscares, o último prémio a ser atribuído é sempre o de melhor filme e quem sobe ao palco é o produtor, porque é aquele que faz o filme acontecer. Basicamente, o produtor é aquele que normalmente se farta de trabalhar, mas que as pessoas nunca conhecem”.
Quando regressou a Portugal, Sandra decidiu deixar de lado a carreira de produtora e optou por seguir um sonho antigo: o da advocacia. Quando entrou para o mundo do cinema, a alenquerense estava a terminar a licenciatura em Direito. Neste momento, Sandra já está a escrever a dissertação de mestrado onde explora a ligação entre o cinema e o Direito.
Ainda assim, a produtora não descarta a possibilidade de um dia regressar à sétima arte se encontrar um projeto que a entusiasme e recorda com saudade as idas ao cinema onde podia ver a reação dos espectadores aos seus filmes. “Adoro estar na sala de cinema sem ninguém saber e ver como reagem as pessoas. No filme ‘Sorte Nula’ as pessoas no final bateram palmas. É de levar às lágrimas, porque é muito difícil fazer cinema em Portugal. Os meus filmes tinham orçamentos muito reduzidos e apesar de todas as dificuldades, chegar ao fim e os portugueses irem ver, encheram as salas e baterem palmas, sem ser na noite de antestreia, é gratificante”.

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