O projeto prevê três fases de execução distintas: a fase inicial, que abrange a extensão da linha desde o Porto até Soure, no distrito de Coimbra, com plano previsto até 2028. Posteriormente, a segunda fase, que compreende o espaço de Soure ao Carregado, a decorrer entre 2026 e 2030. Por fim, a terceira fase da construção une o Carregado e a capital, na Estação do Oriente, com execução igualmente prevista para o ano de 2030. A linha em via dupla, que pretende unir as duas maiores cidades do país, a passar pelo concelho de Alenquer, prevê um tempo de viagem de apenas uma hora e 15 minutos. O transporte percorre cerca de 290 quilómetros de extensão, podendo alcançar uma velocidade de 300 km/hora.
De momento, encontra-se a decorrer a segunda fase do projeto, que inclui a vila do Carregado, com duração prevista de quatro anos e um custo estimado de dois mil milhões de euros. Na área geográfica de Lisboa, o projeto atravessa os concelhos de Rio Maior, Azambuja, Alenquer, Cadaval, Caldas da Rainha e Alcobaça. A fase atual do projeto encontra-se em consulta pública, até 21 de março, e será desenvolvida faseadamente, a partir do Porto.
Em conversa com a Voz de Alenquer, José Martins, presidente da União de Freguesias do Carregado e Cadafais, mostrou algum desagrado com a ausência de informação por parte da Câmara Municipal de Alenquer nos desenvolvimentos do projeto. “Não existe o habito, ao nível da autarquia [Câmara Municipal] de comunicar os procedimentos. Todas essas coisas passam sempre ao lado. Nós [União de Freguesias de Carregado e Cadafais] temos conhecimento daquilo que tem de ser público. Em termos de conhecimento prévio de quaisquer planos e construções, a junta não é habitualmente ouvida. Até mesmo [em relação a] uma simples pedra da calçada que venha a ser colocada pela Câmara Municipal, não nos dizem nada. Apercebemo-nos das coisas quando já estão no local”, salientou o autarca.
José Martins apelou ainda à participação dos fregueses na consulta pública, para evitar que eventuais entraves de comunicação se repitam: “Eu não sigo o exemplo do que fazem connosco enquanto a freguesia, de não nos comunicarem nada. Nós publicitamos tudo, para que as pessoas possam conhecer e dar a sua opinião. Não é só uma questão de formalidade. As pessoas devem ter conhecimento do que se passa e, mais que não seja, avaliar as condições”, acrescentou.
A Voz de Alenquer falou ainda com a Câmara Municipal de Alenquer, através do vereador Tiago Pedro, responsável pelo pelouro das Obras Públicas, que começou por dizer que, de acordo com as informações recebidas, o projeto não apresenta benefícios diretos para Alenquer. “É uma infraestrutura que, em concreto, não vai trazer nenhum benefício direto para nós [Alenquer], visto que não conseguimos tomar o comboio em nenhuma estação aqui, tem que ser em Lisboa ou em Vila Franca de Xira, hipoteticamente”, referiu o vereador. Tiago Pedro sublinhou ainda que a Infraestruturas de Portugal (IP) não tem sido muito recetiva a contributos e que, a partir de agora, a União de Freguesias do Carregado e Cadafais vai também ser ouvida nos desenvolvimentos. O vice-presidente da autarquia disse que a Câmara Municipal de Alenquer não estava munida de ordens nem de informação para partilhar, mas que, a partir de agora, a junta de freguesia vai estar associada ao processo. “Eu estou há três anos em reuniões e só agora se começa a ver luz, e espero que a linha férrea seja diferente, ainda que vá impactar menos com a nossa vida. Será afastado do aglomerado urbano e espero que quem está no território possa ser ouvido, embora a tendência seja diferente nos últimos tempos. Vão dar-nos agora a oportunidade de nos manifestarmos e vamos dar voz à junta do Carregado e dos Cadafais”, acrescentou Tiago Pedro.
“Vou estar presente na reunião pública. Até aqui não estávamos munidos nem da ordem expressa nem da documentação para partilhar com ninguém. Agora, estamos na posição de falar com eles e tomar uma posição conjunta. No passado, não seria acertado estar a juntar o processo das juntas de freguesia, visto que houve uma reunião marcada das Infraestruturas de Portugal connosco. Vamos convidar as freguesias a estar na reunião pública”, explicou o vereador.
A estrada do Carril poderá estar em causa?
José Martins, presidente da União de Freguesias do Carregado e Cadafais, mostrou-se preocupado com a estrada do Carril e com as suas atuais condições, visto que vai ser atravessada pela linha. Em relação a esta questão, o vereador Tiago Pedro referiu que, no seu entender, a importância da estrada é municipal e que o acesso dessa estrada teve inúmeras condicionantes por parte da IP, salientando que não está prevista uma reforma da estrada do Carril: “Seria um custo muito elevado, mas talvez existam outras necessidades, como no centro do Carregado ou em zonas mais rurais. Temos de definir prioridades e podemos até negociar com as Infraestruturas de Portugal, para poderem ajudar na reforma deste troço”.